CRESCENDO EM GRAÇA E CONHECIMENTO
O escritor da Segunda Epístola de Pedro começa e termina sua narrativa teológica dessa maneira:
2 Pe. 1.1 Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo, 2 graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor.
2 Pe. 3.17 Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; 18 antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno.
Provavelmente essa epístola foi escrita para os novos judeus-cristãos na diáspora (dispersão). Os que estavam na dispersão precisavam compreender a essência da fé que fortalece mesmo em tribulações ou perseguições (Cf. 1Pe. 4.12 ss). A chamada para se manter firme na fé e na verdade, antes proclamada pelos servos de Deus, são os temas centrais da epístola (2 Pe. 1.12; 2.2, 21; 3.2). Outro subtema do livro é a relação entre o crescer na graça e o crescer no conhecimento, como uma busca pela experiência com Deus, mas também como um compreender o agir e o amor de Deus revelado em e por Jesus Cristo (2 Pe. 1.3, 8; 2.20-21; 3.18).
Esboço de Assuntos deste Seminário Temático:
1. Crescendo na Graça
1.1 Etimologia - Graça
1.2 Origens da Graça
1.3 Evidências da Graça
1.4 Possibilidades da graça em nós
2. Crescendo no Conhecimento
2.1 Etimologia - Conhecimento
2.2 Origens do conhecimento/ sabedoria
2.3 Conhecimento de Deus
2.4 O Conhecimento e os dons edificam o corpo de Cristo
Conclusão
1. CRESCENDO NA GRAÇA: O (a) cristão (ã) é como qualquer outro ser vivo que necessita crescer, precisa entender que ainda está se desenvolvendo. Uma das faces desse desenvolvimento é compreender o impacto da graça de Deus e de Jesus Cristo em nossas vidas.
1.1 Etimologia: A palavra graça (Caris = Charis) aparece 158 vezes no NT. Graça tem como sinônimo as palavras favor e generosidade e na sua forma pós-fixa surge o termo graciosidade. Graça não tem nada a ver com futilidade. Não é porque é Graça que precisa ter conotação de barata ou algo de pequeno valor.
1.2 Origens da Graça: Pedro chama os fiéis para que compreendam, pratiquem, se desenvolvam e vivam na/ pela e por graça. A graça é uma dádiva de Deus para toda a humanidade. Um presente dado para pessoas que não tinham méritos em si mesmas para recebê-la. A graça não é aceita sem o intermédio da fé, tipificada aqui como uma “mão” que recebe o presente ofertado (Ef. 2.8).
A humanidade procurou de toda a forma ofertar (por sacrifícios, oferendas e adoração) presentes para as divindades, no intuito de reconciliar, agradar ou apaziguar os “deuses”. Contudo, a graça de Deus é um presente do próprio Deus ofertado à humanidade, pelos méritos do próprio Deus revelados na encarnação do Cristo de Deus, a imagem divina impressa na humanidade de Jesus de Nazaré (Gl. 2.16; 1 Jo. 4.9 ss). O Deus-Pai é o Ser que emana graça (1 Pe. 5.10), o Deus-Espírito derrama e promove essa graça sobre os corações (Rm. 5.5; Gl. 4.6; Fp. 4.7; Zc. 12.10; Hb. 10.29) e o Deus-Filho é a encarnação e protótipo da graça de Deus revelada como verdade (Jo. 1.14) numa nova dispensação (Ef. 1.10; 3.2; Cl. 1.25). Parecer e ser semelhante a Cristo é viver o aspecto estético da graça. O Único Deus-Trino se revela pessoalmente como o autor, mantenedor e consumador da graça. Tudo feito por Ele, passa por nós, transcende, se inova e volta para Ele!
1.3 Evidências da Graça: A graça faz com que o (a) cristão (ã) repense sua vida e sua história como uma nova oportunidade para conhecer a Deus e viver seu amor! É uma oportunidade de ser salvo da corrupção que há no mundo. John Wesley afirmava que a graça de Deus é uma graça salvadora/ preventiva, denotando assim o aspecto soteriológico da graça, na teologia arminiana.[1] Todos (as) que estão cheios da graça, conseqüentemente demonstram essa posse legítima produzindo frutos de justiça, de pacificidade e de santificação (Rm. 6.22; Gl. 5.22; Fp. 1.11; Hb. 12.11-16; cf. Jo. 15.1-3). Paulo escrevendo aos crentes de Colossos (1.3-29) associa vários elementos ao desenvolvimento da graça em nós:
a) A graça e o testemunho da fé, para vivermos de forma digna para agradar a Deus (vs. 3-4, 10);
b) A graça, a esperança e verdade do evangelho (vs. 5-6);
c) A graça e os frutos produzidos e amadurecidos (v. 6, 10);
- O fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e temperança.
d) A graça e o entendimento da graça e da verdade (v. 6);
e) A graça e o amor no Espírito (v. 8);
f) A graça e o transbordamento do pleno conhecimento da vontade de Deus (v. 9, 10);
g) A graça, a sabedoria e a inteligência espiritual (v. 9);
h) A graça, o poder (para servir), a perseverança, a longanimidade e a alegria (v. 10-11);
i) A graça, a reconciliação e santificação (v. 22);
j) A graça, a permanência e a firmeza da fé (v. 23);
k) A graça e a perfeição cristã (v. 28).
l) A graça e o crescimento em ações de graças (cf. 2.7)
A graça de Cristo é acumulativa, expansiva e inclusiva. Tudo que recebemos – em prosperidade e espiritualidade no corpo de Cristo - é conseqüência da graça. A graça precisa ser difundida e distribuída gratuita e deliberadamente (Mt. 10.8; Rm. 3.24). Os que vivem a graça liberam perdão naturalmente, pois experimentaram o perdão dado por Deus através de Jesus Cristo. Esse é o aspecto ético da graça.
Mas, a graça também é validada pelo aspecto profético, quando ela repousa à sobra da cruz. Os outros aspectos da graça não seriam o que são sem o Evangelho da Cruz. Graça sem cruz torna o evangelho vazio de sentido, sem abnegação! Cruz sem a Graça nos faz retornar aos rudimentos sacrificiais da Lei e à lógica retribuitiva e meritória que ostenta a vaidade, o favoritismo e a acepção das pessoas. Cruz, Graça e Evangelho devem andar juntos para reforçar o Caráter Profético de uma Geração Cristã Saudável em todas as áreas da vida! A graça não pode ser barata e a cruz não pode ser negligenciada. A cruz pode estar vazia, mas nunca poderá ser esvaziada de seu sentido soteriológico, estético, ético e profético. Conferir Tabela abaixo:
ASPECTO
EFEITO
REFERÊNCIA
Soteriológico - Salvação
At 15.11; 2Tm 1.9 Tt 2.11; 3.5; Ef 2.8
Estético - Imagem de Deus
Rm. 8.29; Cl. 3.10; 1Ts 1.6; 2Co 3.18
Ético - Gratuidade distribuitiva
Mt. 10.8; 1Pe. 4.10
Profético - Anúncio e revelação
Mt. 10.38; 16.24; Gl. 5.11; Ef. 2.16; Cl. 1.20; 2.14
1.4 Possibilidades da graça em nós: Cristo é o nosso modelo para crescer em graça e conhecimento:
“Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele [...] E todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência e das suas respostas [...] E crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens”. (Lc. 2. 40 e 52)
Pensar Deus, que é a própria graça, o principio da sabedoria e o verbo eterno, cuja sua estatura está nas alturas excelsas (o Altissimo) e que abre mão de toda sua glória e se esvazia (ekenwsen = ekenosen) de todo o seu poder divino – na pessoa de seu Filho Unigenis (uion ton monogenh = uion ton monogenê) – para se tornar um ser humano (Fp. 2.5 ss; Jo. 1.1 ss), passível da aprendizagem didática da casa de seus pais, da sinagoga e da sociedade judaica nos dá os parâmetros possíveis para o crescimento.
Deus não precisaria crescer em graça, estatura e conhecimento, mas humilhou-se a si mesmo, na pessoa do Filho, na forma de servo e experimentou as mesmas fases de crescimento e amadurecimento intelectual, emocional e espiritual, humanamente falando.
Ao passar por tudo isso, Deus encarnado humano, provou-nos que é possível crescer e amadurecer como seres humanos e, consequentemente fazermos obras maiores que ele fez (Jo. 14.12). Se fez pecado, simples e fraco (Mt. 11.28-30; Rm. 8.13; Gl. 1.4; 2Co. 5.21) pela gratuidade do amor do Pai.
Muitos cristãos (ãs) ainda não comprendem que para experimentarmos a gratuidade do amor de Deus precisamos reconhecer que somos fracos e necessitados quando dependemos somente de nós mesmos ou somos escravos de nossas más escolhas.
Testemunhar a Graça não é só esperar ter uma vida de vitória e triunfalismo. O apóstolo Paulo testemunhou a graça, mesmo em momento de fraqueza e perseguição:
2Co. 12.7 E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar. 8 Acerca do qual três vezes orei ao Senhor, para que se desviasse de mim. 9 E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo. 10 Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte.
[Cf. tb. Fp. 4.6-19; 2Co. 4.7-18].
Paulo, por fim, aconselha que além de crescer na graça, Timóteo deveria se fortalecer na graça (2 Tm. 2.1). Que a graça, maravilhosa graça, possa sempre superabundar em nós, não por causa da abundância de pecados, mas pela perseverança da fé e na maturação do fruto do Espirito Santo que opera em nós!
O crescimento é tanto possível como necessário.
2. CRESCENDO NO CONHECIMENTO: Enquanto a Vinda de Cristo não acontece, necessitamos crescer em tudo para chegarmos à estatura de homem/ mulher perfeito conforme a justa medida de Cristo (Ef. 4.13; 1 Co. 16.13). Crescer na graça, no conhecimento, na fé, na sabedoria e progredir nos dons inevitavelmente andam juntos (1Sm. 2.26; Pv. 1.5; Lc. 2.40, 52; 1Co. 14.12; Ef. 4.15; Cl. 1.10; 1Ts. 1.3; 4.1; 2Pe. 3.18).
2.1 Etimologia: A palavra conhecimento/ sabedoria (heb. יָדַע = Yada’; gr. gnosen = Gnósen ou Sofia = sofia) permeia praticamente todos os livros da Bíblia. Desde a árvore do conhecimento (Gn. 2.9) até o conhecimento do nome oculto do Messias (Ap. 19.12) na Vinda de sua Glória. A palavra pode ter sentidos diversos, mas os principais conceitos têm a ver com os verbos (e seus sinônimos) saber, conhecer, revelar algo oculto/ novo, instruir-se, perceber etc.
2.2 Origens do conhecimento/ sabedoria: Podemos destacar a sabedoria divina e a sabedoria humana. “E disse Deus”. O Verbo/ a palavra (דְבַר = Davar) é o principio da sabedoria (יָדַע = Yada”) divina.
O sábio do livro de Provérbios narra a trajetória da Sabedoria na eternidade, na história e sua habitação no ser humano (Pv. 8.1ss). Aliás, é no livro de Provérbios que mais se discursa sobre a origem, a trajetória e a finalidade da sabedoria/ conhecimento. A outra sabedoria é a humana. Esta provém da primeira, pois Deus doou à humanidade a capacidade de pensar, raciocinar e criar! A sabedoria humana pode estar em plena sintonia quando procura aprender com Deus, aprender de Deus e aprender coisas úteis para agradar a Deus e servir a si mesmo e – ao mesmo tempo – aos demais seres vivos que compõem a criação. A medicina, a história, a música, a metalurgia, a agricultura, a pecuária etc (Gn. 4.20-22) fazem parte da capacidade de criação do ser humano. Faz parte do acervo de conhecimento produzido, mantido e ampliado pela humanidade.
Ambas as sabedorias (divina e humana) podem trabalhar em conjunto! Contudo, a sabedoria humana é passageira, parcial e temporal e jamais poderá sobrepor a sabedoria divina. A sabedoria humana está sujeita aos seus caprichos, quando estiver fora dos parâmetros da sabedoria divina para o conhecimento do bem!
2.3 Conhecimento de Deus: Todos os escritores bíblicos sempre enfatizaram a necessidade dos homens conhecerem a Deus. Adão conhecia Deus face a face (Gn. 3.8, 9), Abraão foi chamado de amigo de Deus (Tg. 2.23), Moisés falava diretamente com Deus (Ex. 33.11), Enoque (Gn. 5.24) e Elias (2 Re. 2.11) andaram com Deus e Deus os tomou para si.
Os profetas Oséias, Isaías, e Jeremias criticaram veementemente os lideres políticos e religiosos e o povo de Israel-Judá porque não procuraram conhecer Deus e se desviaram do conhecimento da Sua vontade.
O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende [...] Ai dos que escondem profundamente o seu propósito do Senhor, e as suas próprias obras fazem às escuras, e dizem: Quem nos vê? Quem nos conhece? (Is. 1.3; 29.15)
Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor? E os que tratavam da lei não me conheceram, os pastores prevaricaram contra mim, os profetas profetizaram por Baal e andaram atrás de coisas de nenhum proveito [...] Deveras, o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios e não inteligentes; são sábios para o mal e não sabem fazer o bem [...] Até a cegonha no céu conhece as suas estações; a rola, a andorinha e o grou observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do Senhor [...] curvam a língua, como se fosse o seu arco, para a mentira; fortalecem-se na terra, mas não para a verdade, porque avançam de malícia em malícia e não me conhecem, diz o Senhor. (Jr. 2.8; 4.22; 8.7; 9.3)
Ouvi a palavra do Senhor, vós, filhos de Israel, porque o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus [...] O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. (Os. 4.1, 6)
Os profetas Isaías e Jeremias chegam a revelar a arrogância do povo de Deus, cujo olhos, a boca, a mente (coração) e os ouvidos estavam longe do conhecimento sobre Deus.
Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo [...] Mas não atenderam, não inclinaram os ouvidos; antes, endureceram a cerviz, para não me ouvirem, para não receberem disciplina. (Is. 6.10; Jr. 17.23)
O profeta Oséias aconselha o povo de Deus para que o mesmo possa conhecer Deus:
Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra. (Os. 6.3)
Jesus ensinava por parábolas, mas os líderes e uma grande parcela das multidões que o ouvia não compreendiam e não entendiam, pois endureciam seus corações para não conhecerem a Deus.
[...] Os discípulos lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido [...] falo por parábolas, porque, vendo, não vêem e, ouvindo, não ouvem, nem entendem. 14 De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías:
Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados. Bem-aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos ouvidos, porque ouvem. Pois em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes e não viram; e ouvir o que ouvis e não ouviram. (Mt. 13.10-17)
2.4 O Conhecimento e os dons da Trindade edificam o corpo de Cristo: No Livro de Mateus (11.25-30) vemos “Jesus [...] louvando o Pai por ocultar essas coisas [do Reino] dos sábios... e revelá-las aos pequeninos”.[2]
Neste mesmo texto Jesus declara que conhece o Pai e que o Pai o conhece! Jesus é o único ser que conheceu o Pai, sua doutrina e sua vontade (Mt 6.10; Jo 4.34; 5.30; 6.38; 7.17-19; 8.19 ss; 17.25). Por isso, Deus agradou capitular n’ Ele todas as coisas, fazendo-O cabeça da criação [restituindo-o o poder sobre ela] e também da Igreja (Cl. 1.13-23. cf. vs. 17-18). Os apóstolos desejavam ardentemente que os cristãos conhecessem a vontade de Deus.
“Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação (1Pe 2.2)... [Mas] cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo (Cl. 2.8)... Assim, também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo (Gl 4.3). Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade que alguém vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido (Hb 5.12)... Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o que é perfeito, não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus ( Hb. 6.1)... Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lança em rosto; e ser-lhe-á dada (Tg. 1.5)”.
A Igreja recebeu gratuitamente - não por méritos[3] - os dons do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Esses dons em conjunto e simetricamente devem edificar e fortalecer a Igreja em sua missão. É coerente pensar que Deus não se esqueceria de equipar e capacitar o seu povo com ministérios, habilidades, talentos e dons relacionados ao conhecimento, ensino, exortação e doutrinação da Igreja de Cristo. Paulo, pela inspiração do Espírito de Deus, desejava que os cristãos recebessem e progredissem nos dons da Trindade. Paulo classifica três dons do Espírito com a busca do conhecimento, entendimento, discernimento e sabedoria.
Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo [...] Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência (conhecimento) [...] o dom de discernir os espíritos [...] Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer [...] Assim, também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir [neles], para a edificação da igreja”. (1Co 12.4, 7-8, 10-11; Cf. tb. 1 Ts. 4.1)
Quando falamos dos dons do Pai encontramos os dons de Ensino e Exortação:
“tendes... diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; o que ensina esmere-se no fazê-lo; o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria [...] Torna-te, pessoalmente, exemplo de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito”. [...] “aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino”.
(Rm. 12.3, 6-8; 1Tm. 4.13 e Tt 2.7)
Nos dons ministeriais concedidos por Cristo encontramos o ofício de mestre:
apostolous [apóstolos = missionários], profhtas [profetas], euaggelistas [evangelistas], poimenas [pastores] e didaskalous [mestres/ doutores].[4] (Ef. 4.11)
apostolous [apóstolos = missionários], profhtas [profetas], e didaskalous [mestres/ doutores]. [5] (1Co 12.28)
Dons Espirituais, ministeriais e eclesiais (vocacionais) ► Conhecimento
Provém do:
Tipo de Dom:
Referências:
PAI
Ensino e Exortação
1Tm. 4.13; Tt. 2.7
FILHO
Docência e instrução
Ef. 4.11; Mt. 4.23; 7.29
ESPÍRITO
Sabedoria, conhecimento e discernimento
1Co 12.4, 7-8, 10-11
Apesar de muitos não gostarem, principalmente os que só vivem “o espiritual”, foi o próprio Cristo que elegeu quem deveria ensinar a Igreja pela letra e pelo Espírito. Claro que o conhecimento sem orientação do Espirito ensoberbece. Por isso, os fariseus foram duramente criticados por Jesus, pois conheciam a letra da Lei, mas não conheciam o Espírito que estava na origem da letra e da palavra e, portanto, não permitiam que o Espirito Santo vivificasse e renovasse o poder da palavra nas pessoas que a ouviam e nem facilitavam que o amor de Deus fosse revelado às essas pessoas (Mt. 15.1-19; 16.1-12; 19.3-12; 21.1-45; 23.2-39).
Paulo compreende que a Letra da Lei foi e é importante em si para o que ela propoe ensinar ou revelar o desejo de Deus quanto à Dispensação da Lei, mas o ministério do Espírito Santo – atuando agora na Dispensação da Graça – não somente superou o conhecimento da Letra da Lei escrita em tábuas de pedra como também proporcionou que nos tornassemos CARTAS VIVAS que revelam a nossa participação como ministros de uma nova aliança no conhecimento de Deus, não somente pela Letra da Palavra, mas pelo testemunho do Espírito que VIVIFICA.
“Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações. E é por intermédio de Cristo que temos tal confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata, mas o espírito vivifica. E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito! (2Co 3.2-8)
Se não ficássemos repetindo versículos como simples platéia desatenta, mas lêssemos o contexto do versículo, veríamos claramente que Paulo não está falando da letra dos estudos, da teologia, das ciências exatas ou humanas, mas da Letra da Lei Mosaica escrita para orientar o povo de Israel, mas que em si revelava o ministério da morte (para os que desobedeciam a Lei).
As Escrituras na Plenitude da Graça devem revelar o ministério da Vida, cujo o Espírito Santo é mestre por excelência. Deus e sua Palavra não mudaram, mas quanto ao trato com os tempos e nas dispensações, a nova aliança veio para cumprir a Lei já escrita, não pela força estrita e intriseca da Lei, mas por Jesus Cristo, que pelo amor cumpriu toda a justiça (Gl. 5.23). Paulo mestre da Lei, discipulo de Gamaliel, conhecedor profundo dos ensinos e da doutrina dos fariseus, teólogo capacitado e apóstolo de Cristo (Rm. 11.1; Fp. 3.5,6) compreendia que o conhecimento sem amor é fútil e inútil para a edificação do Reino de Deus:
“No que se refere às coisas sacrificadas a ídolos, reconhecemos que todos somos senhores do saber. O saber ensoberbece, mas o amor edifica. Se alguém julga saber alguma coisa, com efeito, não aprendeu ainda como convém saber. Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido por ele (e conhece sua vontade)”. (1Co. 8.1-4 ss)
O conhecimento humano e as ciências humanas, por sua vez, nem sempre podem entender ou conhecer as coisas espirituais. Somente quem recebe o Espírito de Deus e a mente de Cristo, entende e compreende as coisas do Espírito de Deus:
“Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo”. (1Co 2.10-16)
Quem ensina deve compreender que será cobrado duas vezes mais. Tiago (3.1) recomendou aos cristãos que nem todos poderiam se tornar mestres: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres (gr. Didaskaloi = didáskaloi/ ensinador), sabendo que havemos de receber maior juízo”.
Caso ensinemos doutrinas e caminhos errados para o povo de Deus, até mesmo se esquecermos de avisar dos perigos que podem atingir os indoutos – omitir o ensino (Ez. 3.16-27), Deus nos cobrará.
“Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão”. (Lc. 12.48)
3
Conclusão:
A palavra exortação (gr. nouqesia = nouthesia) significa, convidar a mente a refletir sobre o que é correto. Outro termo, mais usado por Paulo é paraklhsis (paráklesis), no sentido de consolar os ouvintes e convidá-los a colocar para fora o que não edifica. Paulo solicitava a Timóteo que exortasse a Igreja a se manter na fé e que ele, Timóteo deveria ser o exemplo dos fiéis.
“Ordena e ensina estas coisas. Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te exemplo dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. Até à minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes. [...] Tu, pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros. [...] Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”.
(1Tm 4.11-16; 2Tm 2.1 e 2; 3.14-15)
Ninguém pode ter conhecimento de Deus se não conhece as Escrituras. Melhor ainda, se não conhece Jesus, o verdadeiro interprete e cumpridor das Escrituras:
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. Evita, igualmente, os falatórios inúteis e profanos, pois os que deles usam passarão a impiedade ainda maior [...] Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão... correção... educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (2Tm 2.15-16; 3.16-17)
A sabedoria e o conhecimento de Deus não podem e não devem trazer contenda, nem ressentimento e, menos ainda, dissensões na Igreja. Se cada um assumir verdadeiramente o dom de Deus concedido gratuitamente para a edificação do Corpo de Cristo, não alimentará a inveja e as lutas internas para provar quem pode mais na Igreja.
Tiago (3.13 ss) pode nos ajudar nisso:
“Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins. A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento. Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz.”
Os que profetizam devem levar em alta consideração os que evangelizam. Os evangelistas devem cooperar constantemente com os que fazem missão. Os missionários e missionárias devem considerar a autoridade (não autoritarismo) de seus líderes e precisam colaborar com aqueles que legitimamente pastoreiam o rebanho de Deus em Cristo. Os pastores devem ter em alta estima os mestres e os doutores, não com honrarias fúteis, mas honrá-los duplicadamente pelo esmêro em ensinar:
“Os bispos sejam irrepreensíveis... apto para ensinar [...] Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”. (1Tm 3.2; 5.17)
Precisamos conhecer Deus, seja pela Letra e pelo Espírito, seja pela experiência e pelo Espírito ou pela revelação da Palavra e pelo Espírito. São três maneiras legitimas para conhecermos Deus, ou melhor, Deus se dá a conhecer por nós! Terminemos então com o cântico sacerdotal de Paulo:
“Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”. (Cl. 3.16, 17)
Kurie Elehson! Criste Elehson!
[Senhor, Cristo tende misericórdia de nós]
Texto de Marcos José Martins
(Professor, Teólogo, Musicista, Escritor e Conferencista)
Notas Bibliográficas:
[1] A formulação da Teologia Arminiana surge quando Jacob Armínio (Tiago Arminio), grande teólogo calvinista, foi convidado a refutar os ensinos contra a doutrina da predestinação incondicional, sendo ele mesmo professor dessa matéria. Então, Armínio se convenceu de que a predestinação era restrita, sujeita não pela conformidade predeterminada e inquestionável da soberania de Deus, mas sujeita às escolhas humanas. O que está no centro da questão não é se Deus sabe ou se Deus não sabe quem será salvo ou condenado, mas que Deus em sua presciencia soberana indica pistas para que a humanidade possa se desviar da condenação, delegando aos seres humanos a capacidade de fazer as escolhas que poderão levá-los à salvação. O fato do ser humano ter capacidade de “livre-escolha” e “livre-juízo/arbítrio” para decidir denota o infinito amor de Deus e a infindável justiça divina em prol dos seres humanos. Conhecemos essa teologia pelo conceito de “Graça Previniente”. Realmente o ser humano não pode fazer nada para obter a salvação, mas pode trabalhar em sinergia com Deus, para aceitar a salvação, pela graça mediante a fé. Afirmar que somente alguns podem ser salvos e que Deus já havia predestinados outros para condenação é incompatível com o caráter de Deus, que é amoroso, compassivo, bom, justo e deseja que todos se salvem!
Conferir também em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arminianismo
[2] HAIGHT, Roger. Jesus, símbolo de Deus. São Paulo: Paulinas, 2003. 576 p. (p.205)
[3] A etimologia grega da palavra dom (gr. Carisma = Charisma), deriva da palavra graça (caris = Charis). O termo “graça” significa favor não merecido. O termo “dom” significa favor que alguém recebe sem qualquer mérito próprio (Strong: 5486). Qualquer cristão (ã) que julga ter dons espirituais porque “pagou o preço” para tê-lo, é arrogante e imaturo espiritualmente. Os dons são presentes de Deus para nós. Viver uma vida de consagração, oração e jejum não nos faz merecedores dos dons, mas nos ajudam a progredir neles, para a glória daquele que nos chamou e capacitou para andarmos em boas obras. Os frutos de justiça produzidos em parceria com o Espírito Santo nos faz ser cheios do Espírito Santo, mas é um esforço inútil se não compreendermos o princípio da Graça Salvadora.
[4] Bíblia Sagrada. Novo Testamento Interlinear Grego-Português. Barueri: SBB, 2007. 978 p. p. 719
[5] Id., ibid., 1995. p. 648
Bibliografia consultada e indicada:
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Manual da Harpa Cristã. São Paulo, CPAD, 1ª ed. 1999. 240 p.
Bíblia de Estudo Almeida Revista e Atualizada. SBB. 1999: 2005.
Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. 1573 p.
Bíblia Sagrada. Novo Testamento Interlinear Grego-Português. Barueri: SBB, 2007. 978 p
GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do NT grego/português. (Trad. Julio Zabatiero). São Paulo: Edições Vida Nova. 228 p.
HINÁRIO. Harpa Cristã. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), 1981. 13ª. Edição. (Com música).
KIRST, Nelson; SCHWANTES, Milton (orgs.). Dicionário hebraico-português & aramaico-português. 21. ed. S. Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2008. 305 p.
TAYLOR, William Carey. Dicionário do Novo Testamento grego. 10. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 2001. 247 p.
Outras fontes bibliográficas:
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arminianismo
quarta-feira, 19 de maio de 2010
VERDADEIROS (AS) ADORADORES (AS) EM MEIO A UMA GERAÇÃO CORROMPIDA
VERDADEIROS (AS) ADORADORES (AS)
EM MEIO A UMA GERAÇÃO CORROMPIDA
(Rf. 2Pe 1.4)
“... Não vos conformeis com este século (mundo), mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Paulo, apóstolo (In: Rm. 12:2)
PEQUENO COMENTÁRIO SOBRE O TEMA PRINCIPAL: O apóstolo Paulo roga a comunidade cristã em Roma – e por herança, todas as comunidades cristãs de todos os tempos, para refletir sobre o presente tempo (gr. aiwni - aioni).1 Recomenda aos cristãos e às cristãs para que não se conformem (tomem a forma de) com as coisas do presente século/ mundo, mas que sejam transformados (gr. metamorfousqe = metamorfousthe) pela renovação da vossa mente, ou seja, o vosso modo de pensar. Precisamos da metamorfose mental para compreendermos o impacto do mundo espiritual no nosso dia-a-dia. Não somente a mente (o modo de pensar), mas também o nosso espírito (o modo de sentir) e o nosso corpo (o modo de agir) serão alvos de transformação contínua, podendo assim oferecer a totalidade de nosso ser como sacríficio – em ações de graças – vivo, santo, agradável e irreprensível a Deus (1 Ts. 5.23).
Esboço de Assuntos deste Seminário Temático:
1. Os Elementos da Verdadeira Adoração
1.1 Verdadeira adoração
1.2 A verdadeira divindade
1.3 O verdadeiro culto
1.4 A verdadeiro espaço da adoração e da palavra
2. A verdadeira adoração requer novo nascimento
2.1 Adoradores (as) buscam a santidade
2.2 Adoradores (as) buscam imitar Cristo
2.3 Adoradores (as) assumem a vocação
Conclusão
1. Os Elementos da Verdadeira Adoração: Mais do que nunca, os conselhos de Paulo vêm nos ajudar a repensar a maneira de prestarmos uma adoração verdadeira, um culto coerente e racional,2 uma liturgia inclusiva, gestos corporais vivos, santos e agradáveis a Deus num presente tempo de confusão, compulsão e convulsão espiritual. Portanto, para realizarmos um culto coerente se faz necessário relacionar a verdadeira adoração com a verdadeira divindade, com o verdadeiro culto e com o verdadeiro espaço sagrado. Se houver, contradição entre estes quatro elementos (adoração, divindade, culto e espaço sagrado), a verdadeira prática adoradora não acontecerá.
1.1 Verdadeira adoração: Poderíamos achar muita arrogância supor que qualquer pessoa possa nos ensinar como devemos adorar (gr. proskunew - proskyneõ = inclinar, reverenciar, se curvar, beijar os pés Cf. Sl. 132.7). Contudo, do livro de Gênesis (4.26; 22.5) ao livro de Apocalipse (19.4) encontramos vestígios da verdadeira e da falsa adoração a Deus. O próprio Deus, segundo a fé cristã, regulamenta a quem se deve adorar e porque se deve adorar (Gn. 20.5; 23.24; Sl. 95.6; Is. 43.21). Há uma convulsão espiritual quase que histérica para definir quem sabe adorar melhor ou adorar mais. Quais igrejas têm verdadeiros ministérios de louvor ou quais igrejas só comportam uma pequena equipe de louvor que, muitas vezes são simples canais de divulgação dos “grandes ministérios e bandas de louvor”. A verdadeira adoração não tem nada a ver com a ostentação, teatralização, consumismo desvairado, glamour ou com a fama. A verdadeira adoração não é algo que nasce no exterior e que é implantada numa noite de louvor ou numa campanha de avivamento. Nasce de dentro para fora! Surge, segundo o salmista, de um coração contrito e a partir de um espírito quebrantado, de um sentir racional (Sl. 24.4; 34.18; 47.7; 51.10; 111.1; 139.1 ss) e de um avivamento contínuo em qualquer circunstância (2Sm. 12. 15-25; Hc. 3.2, 16-19).
Jesus, quando tentado no deserto (Mt. 4.1-11), recusa várias propostas feitas pelo diabo, inclusive de prestar falsa adoração a uma falsa divindade, em um falso culto. Aqui temos uma inquietação! Não basta adorar a divindade verdadeira, mas adorá-la com verdadeira adoração num culto legítimo (gr. Latreia – latréia – cf. Hb. 9.1).
1.2 A verdadeira divindade: A verdadeira divindade é aquela que é divina em si mesma. Na fé judaico-cristã-islâmica,3 só existe um Deus, que não pode ser adorado e nem ser representado por imagens, estátuas ou figuras (abstratas ou concretas) produzidas por mente ou mãos humanas (Ex. 20.4; Dt. 6.4; Sl. 115; Rm. 1.18 ss; Ap. 13; Surata 31.13; 33.33).
Não terás outros deuses diante de mim [...] Não farás para ti imagem de escultura. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás... (Ex. 20.3-5)
Ó filho meu, não atribuas parceiros a Deus, porque a idolatria é grave iniqüidade [...] E permanecei tranqüilas em vossos lares, e não façais exibições, como as da época da idolatria; observai a oração, pagai o zakat , obedecei a Deus e ao seu Mensageiro, porque Deus só deseja afastar de vós a abominação, ó membros da Casa, bem como purificar-vos integralmente. (Surata 31.13; 33.33)
No livro de Deuteronômio (6.4) observamos o Shemá Yisrael que atesta que ADONAI é o Único Deus.4 Yahwéh [heb. יְהוָה] é na tradição hebraica o EU SOU o que EU SOU (Eu serei o que serei),5 o Deus que existe em si, por e para si mesmo antes que houvesse os céus e a Terra (a criação, os anjos e os humanos – Is. 43.13; 45.5 ss). A falsa divindade é aquela que é concebida por humanos e é potencializada e divinizada, tomando o lugar e a primazia de Deus (fama, glória, riquezas, dinheiro/ “mamon”, poder, mercado, amigos, sexo etc).
A falsa divindade nunca é em si e para si mesma. A divindade falsa sempre tem um objetivo que vem antes e depois dela. Portanto, a verdadeira divindade é aquela que não necessita de explicações ou aceitação por consenso ou por maioria de adeptos.
Nada tem o poder de proteger, justificar ou defender a divindade de Yahwéh, pois tudo e todos têm uma imagem de Deus que deve ser questionada diuturna e continuamente. Qualquer divindade que fala por si mesma, mas seu principio e finalidade é questionável, pois procura uma glória que não é sua (Jo. 7.18; Is. 42.8). Portanto é uma falsa divindade. O único ser que pode interpretar e revelar a verdadeira divindade foi e é a pessoa de Jesus Cristo (Mt. 4.10; Jo. 7.16-18; 2Co 3.18; 4.4; Cl. 1.15; ref. ao Espírito Santo 1Co 2.10 que interpreta as profundezas de Deus).
1.3 O verdadeiro culto: O verdadeiro culto ou liturgia (leitourgias = leitourgias) deve ser coerente às propostas que os próprios celebrantes se prestam a fazê-lo. Prestar culto a Deus em liturgia não significa engessar a celebração e sim dar à celebração uma dinâmica onde o povo sirva a Deus e se sirva em [e na] comunidade.
Muitos cultos têm fugido plenamente de seus propósitos. A Ceia [a], o batismo [b], ordenação de ministros [c], apresentação de crianças e cerimônias matrimoniais [d] ou fúnebres [e], que no culto cristão são cerimônias que visam ADORAR e GLORIFICAR a Deus pela comunhão [a], pela salvação [b], pela vocação recebida [c], pela renovação da comunidade [d] e pela esperança da ressurreição [e], não têm mais sentido, visto que só se tornaram um ajuntamento de pessoas, cada qual com objetivos diferentes. São cultos de adoração vazios e não são conseqüentemente didáticos. O culto se torna falso quando serve a propósitos escusos e arbitrários para promover qualquer outra coisa do que a adoração a Deus e a comunhão da comunidade cristã. Vários cultos cristãos hoje são direcionados a promover:
a) a política do Estado (Dn. 3; Ap. 13);
b) a adoração a seres celestiais como anjos (Cl. 2.18);
c) a adoração e a bajulação de homens (Rm 1.18ss; 1Ts 2.5-8);
d) a adoração a coisas abstratas (Mt. 6.24; 1 Tm. 6.10, por exemplo, o amor ao dinheiro) e;
e) a adoração do “mercado” de consumismo espiritual compulsivo e desenfreado (Is. 29.13; Ap. 17-18).
A liturgia verdadeira é aquela que é inclusiva, onde pessoas (meninas e meninos, moças e rapazes, mulheres e homens, idosas e idosos, com ou sem deficiência), dons, carismas e ministérios têm seu espaço garantido! Hinos clássicos e novos cânticos não podem viver numa tensão e concorrência constante.
Infelizmente, alguns “levitas”, agora ressuscitados do sacerdócio da Antiga Aliança (Lv. 10.1 ss), tumultuam o culto com cânticos e mantras intermináveis (Hb. 7.11), “os apóstolos” que ressurgiram com a polpa dos sacerdotes israelitas aaraônicos (e às vezes faraônicos) imitam símbolos e uma mística copiada de um tempo imemorial (Is. 29.13; Jr. 2.8) que nem os próprios judeus hodiernos praticam e “os profetas” da última hora que antecipam as palavras que Deus “ainda” não mandou falar (Is. 30.10; Jr. 5.13, 31; 6.13; 23.16; Ez. 13.1-23) devem saber, pelo mesmo é coerente pensar assim, que o culto verdadeiro deve ter a participação do povo simples e até dos iletrados na letra, mas que não são iletrados nas coisas do espírito. Se há verdade no louvor, tudo é feito para glória de Deus! O verdadeiro culto preza pela participação de todos os membros da comunidade, desde a tenra infância até a idade avançada (Harpa Cristã, Hino 124 § 6 e “7”).
1.4 O verdadeiro espaço da adoração e da palavra: Múltiplas espiritualidades estão sendo vivenciadas no mesmo espaço. A pluralidade de temporalidades está na realidade do tempo presente (saudades, expectativas, atos proféticos etc).
Todos/ as podem participar do culto com cânticos, orações, salmos, danças, testemunho e saudação (1 Co. 12.1; 14.1 ss; Ef. 4.12 ss; 5.19; Cl. 3.16). Porém, não podemos deixar de convidar a divindade verdadeira para participar deste culto verdadeiro (Ap. 3.20; Hb. 4.7), pois a Palavra de Deus – representante inspirada e legitimada pelo Espírito da Verdade, deve ter seu TEMPO e ESPAÇO garantidos na liturgia. O espaço da Palavra não pode ser fracionado a poucos minutos. O mesmo tempo e espaço que temos para cânticos, testemunhos e devocionais, deve ser ofertado para Deus e sua Palavra.
Para que haja coerência em um culto racional que preza pela ordem e decência (1 Co. 14.40) devemos tirar toda a confusão espiritual do mesmo. “Se eu canto, se tu cantas, se ele canta, se nós cantamos, quando todos cantam, quando Deus poderá falar conosco através da sua Palavra? (Sl. 119.9; Rm. 10.17).
Devemos levar em conta também que desde a antiguidade a humanidade procura um lugar sagrado para adorar, seja em altares feitos de materiais diversos, tabernáculos, templos, sinagogas e casas. Jesus, num certo momento de seu ministério, se encontra discutindo a teologia da adoração com a mulher samaritana (Jo. 4.19 ss). Aquela mulher de Samaria, assim como os judeus de Jerusalém, acreditavam piamente que o lugar certo de adorar era só em suas respectivas cidades. Jesus resolve esse problema “teofânico-eclesiológico” mudando a tônica do discurso, para uma realidade “epifânico-escatológica” (Jo. 4.23) e “pneumatológica” (Jo. 4.23,24). Hoje, não existe melhor Templo e melhor lugar sagrado para a adoração do que o NOSSO CORPO e, de forma mais ampla, na UNIDADE do CORPO de CRISTO (Rm 8.9; 1Co 3.16,17; 6.19; 2Co 6.16; Ef 2.21; Tg 4.5; Ap. 21.3).
***
2. A verdadeira adoração requer novo nascimento: Seguindo as orientações de Paulo podemos aplicar para a espiritualidade cristã uma total mudança de pensamento. Ser adorador implica indiscutivelmente, no novo nascimento, na imitação de Cristo e na aceitação da vocação de Deus em nossa vida. Essas três categorias nos conduz à mudança do modo de pensar nesse presente tempo, para que assim possamos experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
2.1 Adoradores (as) buscam a santidade: A vontade de Deus é que busquemos a santidade (1Ts 4.3; 2 Co. 7.1). O escritor aos Hebreus diz que sem a correção dos erros (Hb. 12.10), sem a comunhão (paz com todos) e sem a santificação, ninguém poderá ver a Deus (Hb. 12.14). Pedro também relaciona a busca da santidade com a mudança de atitude e com a imitação de Deus (1 Pe. 1.14, 15; cf. tb. Rm. 8.29; Cl. 3.10).
Ser convidado a imitar o próprio Deus (Ef. 5.1) é uma honra, aliás, é um convite para participarmos da sua glória, da sua virtude e da sua natureza divina e, através dos méritos de Cristo, nos livrarmos da “corrupção das paixões que há no mundo” (2 Pe. 1.3-11; 1 Ts. 1.6; Cl. 2.14; Hb. 6.12).
A Santidade Adoradora não se mede pela quantidade de sacrificios, jejuns e orações, mas pela qualidade das nossas atitudes, sejam elas fisicas, mentais, sentimentais e/ ou espirituais. O poder dos adoradores está na virtude do Espírito Santo. A virtude do Espírito Santo nos concede o carater de Cristo, o amor do Pai e o fruto do próprio Espírito de Deus (Gl. 5.22 ss; Ef. 2.4 ss; 2 Pe. 1.3 ss).
2.2 Adoradores (as) buscam imitar Cristo: Buscar a santidade é prontamente aceitar a imagem do Deus invisivel revelada em Jesus de Nazaré (2 Co. 4.4; Cl. 1.15; 3.10; Rm. 8.29). Para que sejamos verdadeiros adoradores/ as necessitamos exalar e sermos o bom perfume de Cristo (2 Co. 2.15), imitar o carater de Cristo, aprender dele e seguí-lo (Mt. 11.28; Mt. 16.24). A dificuldade reside quando não imitamos a Deus nas coisas que Ele nos proporciona a imitá-lo. Preferimos imitar estilos, modismos, personalidades, “ídolos”, ritmos e práticas momentâneas e descartáveis do que imitar a Deus, o Eterno. Infelizmente, essa prática mimética não corresponde à uma atitude adoradora!
2.3 Adoradores (as) assumem a vocação: Assumir uma vocação é atender uma voz que chama para uma ação (latim: vocare). Na etimologia da palavra Igreja (gr. Ekklesia) encontramos a junção de dois termos ligados ao termo vocação. Do verbo grego (kalew) “Kaleo” (chamar) surge o termo (klesis) “Klésis” (chamado/ vocacionado/ convocado) somado à preposição “ek” (do, para fora). Paulo salienta que temos uma vocação pela qual fomos chamados (gr: Eklethete; cf. Ef. 4.1).6 Fomos chamados para fora de uma geração corrupta (Fp. 2.15) para sermos filhos da obediência como uma geração eleita (1Pe. 2.9) na congregação de vocacionados (1Co 1.26).
Reconhecer os dons e ministérios de Deus em nós é, sem dúvida, assumir a nossa vocação.
“Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância, pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.” Pedro, apóstolo (In: 1 Pe. 1.14)
Conclusão:
O mundo criado é uma maravilha e cosmeticamente belo. A palavra MUNDO (gr. Kosmos, transl. Kosmos) é o termo que define o habitat dos seres animados (biologicamente) e de objetos não-animados (geologia). O mundo pode significa a raça humana, as pessoas que habitam o planeta Terra. Aliás, a palavra mundo significa o próprio planeta Terra, ou Globo terrestre (Global). É no mundo, no bom sentido da palavra, que nascemos, vivemos, crescemos – passamos pela adolescencia, juventude, fase adulta e morremos... conhecemos Deus, nossa família, amigos, pessoas que nos dizem ser inimigas etc. Este é o mundo que Deus amou de tal maneira... “não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo” (Jo. 3).
A palavra mundo também pode ser utilizado como substantivo ou adjetivo: o mundo dos esportes, o mundo da moda, o mundo dos negócios, o mundo das religiões etc. Na filosofia platônica, existe o Mundo das idéias (reminiscências) e o Mundo Real. Na Teologia Judaico-Cristã o mundo pode ter TRÊS definições básicas: a) o mundo caótico; b) o mundo cosmético; c) o mundo pós-morte. Geralmente, no cristianismo, o mundo é citado junto com outros substantivos como, por exemplo, o mundo e o diabo, o mundo e a carne, o mundo e o pecado, o mundo e o inferno, o mundo e a morte. O mundo, no sentido ruim do termo, representa TUDO que nós afasta da comunhão com Deus. Se torna caótico, pois não existe uma ordem que visa glorificar e adorar a Deus.
A atual geração acumula indiscriminadamente os pecados pessoais e estruturais de todos os tempos e lugares. É a globalização, melhor ainda, a mundanização das práticas que afastam cada vez mais a humanidade da verdadeira adoração e consequentemente da verdadeira Divindade. Se há algo que Deus ainda procura são adoradores (as). “Eia! Vejamos os que os filhos dos homens estão fazendo!” ou “Adam, onde você está?” continuam sendo expressões atualíssimas para refletirmos onde, como e de que maneira adoramos. Sejamos uma geração eleita no meio de uma geração corrupta, corrompida e corrompidora.
Kurie Elehson! Criste Elehson!
[Senhor, Cristo tende misericórdia de nós]
Texto de Marcos José Martins - Evangelista
(Professor, Teólogo, Musicista, Escritor e Conferencista)
Notas Bibliográficas:
[1]Aioni deriva da expressão grega “aion” (eterno). Dependendo do contexto, esta expressão pode estar se referindo ao que é [tempo] Eterno ou ao que é “eterno” enquanto dura ou permanece. [Subst. Dativo masc. Subordinativa]
[2]Englobamos aqui todos os tipos de inteligência: a) racional; b) emocional e c) espiritual. Conquanto que sejam verdadeiras no tocante à glorificação de Deus-Trino e que produzam contextualmente beneficios aos seres humanos.
[3]Contudo, o Al Corão não admite uma Trindade divina na tradição bíblico-teológica cristã e não existe nenhuma referência ao Espírito Santo na tradição judaíco-cristã como uma pessoa divina. Jesus é visto como Messias, mas não é Deus Aláh (Surata 5.72-73). A esse tipo de monoteísmo denominamos de monoteísmo radical. (Consulta em 23 de março de 2010). Conferir também em Fonte:http://www.cacp.org.br/Islamismo/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=347&menu=4&submenu=1
[4] שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד ◄. Este texto afirma a crença judaica no monoteísmo. Essa confissão de fé hebraica transliterada é assim pronunciada “Shemá Yisrael: Adonai Elohêynu, Adonai Echad”.
[5]אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה ◄. Essa expressão significa literalmente “EU SOU O QUE SOU”. Deus é o Único Ser que existe e subsiste em si. Mesmo. A pronuncia dessa expressão hebraica transliterada é “Ehyeh asher ehyeh”.
[6] Não há aqui nenhum erro na regra gramatical da língua portuguesa, uma redundância. A expressão tem a ver com um reforço da idéia da vocação.
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Bibliografia consultada e indicada:
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Manual da Harpa Cristã. São Paulo, CPAD, 1ª ed. 1999. 240 p.
Bíblia de Estudo Almeida Revista e Atualizada. SBB. 1999: 2005.
Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. 1573 p.
Bíblia Sagrada. Novo Testamento Interlinear Grego-Português. Barueri: SBB, 2007. 978 p
GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do NT grego/português. (Trad. Julio Zabatiero). São Paulo: Edições Vida Nova. 228 p.
HINÁRIO. Harpa Cristã. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), 1981. 13ª. Edição. (Com música).
KIRST, Nelson; SCHWANTES, Milton (orgs.). Dicionário hebraico-português & aramaico-português. 21. ed. S. Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2008. 305 p.
RAMOS, Luiz Carlos (Orgs.). Anuário Litúrgico: Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. S. B. Campo, SP: EDITEO. Anual. 2007.
TAYLOR, William Carey. Dicionário do Novo Testamento grego. 10. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 2001. 247 p.
EM MEIO A UMA GERAÇÃO CORROMPIDA
(Rf. 2Pe 1.4)
“... Não vos conformeis com este século (mundo), mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Paulo, apóstolo (In: Rm. 12:2)
PEQUENO COMENTÁRIO SOBRE O TEMA PRINCIPAL: O apóstolo Paulo roga a comunidade cristã em Roma – e por herança, todas as comunidades cristãs de todos os tempos, para refletir sobre o presente tempo (gr. aiwni - aioni).1 Recomenda aos cristãos e às cristãs para que não se conformem (tomem a forma de) com as coisas do presente século/ mundo, mas que sejam transformados (gr. metamorfousqe = metamorfousthe) pela renovação da vossa mente, ou seja, o vosso modo de pensar. Precisamos da metamorfose mental para compreendermos o impacto do mundo espiritual no nosso dia-a-dia. Não somente a mente (o modo de pensar), mas também o nosso espírito (o modo de sentir) e o nosso corpo (o modo de agir) serão alvos de transformação contínua, podendo assim oferecer a totalidade de nosso ser como sacríficio – em ações de graças – vivo, santo, agradável e irreprensível a Deus (1 Ts. 5.23).
Esboço de Assuntos deste Seminário Temático:
1. Os Elementos da Verdadeira Adoração
1.1 Verdadeira adoração
1.2 A verdadeira divindade
1.3 O verdadeiro culto
1.4 A verdadeiro espaço da adoração e da palavra
2. A verdadeira adoração requer novo nascimento
2.1 Adoradores (as) buscam a santidade
2.2 Adoradores (as) buscam imitar Cristo
2.3 Adoradores (as) assumem a vocação
Conclusão
1. Os Elementos da Verdadeira Adoração: Mais do que nunca, os conselhos de Paulo vêm nos ajudar a repensar a maneira de prestarmos uma adoração verdadeira, um culto coerente e racional,2 uma liturgia inclusiva, gestos corporais vivos, santos e agradáveis a Deus num presente tempo de confusão, compulsão e convulsão espiritual. Portanto, para realizarmos um culto coerente se faz necessário relacionar a verdadeira adoração com a verdadeira divindade, com o verdadeiro culto e com o verdadeiro espaço sagrado. Se houver, contradição entre estes quatro elementos (adoração, divindade, culto e espaço sagrado), a verdadeira prática adoradora não acontecerá.
1.1 Verdadeira adoração: Poderíamos achar muita arrogância supor que qualquer pessoa possa nos ensinar como devemos adorar (gr. proskunew - proskyneõ = inclinar, reverenciar, se curvar, beijar os pés Cf. Sl. 132.7). Contudo, do livro de Gênesis (4.26; 22.5) ao livro de Apocalipse (19.4) encontramos vestígios da verdadeira e da falsa adoração a Deus. O próprio Deus, segundo a fé cristã, regulamenta a quem se deve adorar e porque se deve adorar (Gn. 20.5; 23.24; Sl. 95.6; Is. 43.21). Há uma convulsão espiritual quase que histérica para definir quem sabe adorar melhor ou adorar mais. Quais igrejas têm verdadeiros ministérios de louvor ou quais igrejas só comportam uma pequena equipe de louvor que, muitas vezes são simples canais de divulgação dos “grandes ministérios e bandas de louvor”. A verdadeira adoração não tem nada a ver com a ostentação, teatralização, consumismo desvairado, glamour ou com a fama. A verdadeira adoração não é algo que nasce no exterior e que é implantada numa noite de louvor ou numa campanha de avivamento. Nasce de dentro para fora! Surge, segundo o salmista, de um coração contrito e a partir de um espírito quebrantado, de um sentir racional (Sl. 24.4; 34.18; 47.7; 51.10; 111.1; 139.1 ss) e de um avivamento contínuo em qualquer circunstância (2Sm. 12. 15-25; Hc. 3.2, 16-19).
Jesus, quando tentado no deserto (Mt. 4.1-11), recusa várias propostas feitas pelo diabo, inclusive de prestar falsa adoração a uma falsa divindade, em um falso culto. Aqui temos uma inquietação! Não basta adorar a divindade verdadeira, mas adorá-la com verdadeira adoração num culto legítimo (gr. Latreia – latréia – cf. Hb. 9.1).
1.2 A verdadeira divindade: A verdadeira divindade é aquela que é divina em si mesma. Na fé judaico-cristã-islâmica,3 só existe um Deus, que não pode ser adorado e nem ser representado por imagens, estátuas ou figuras (abstratas ou concretas) produzidas por mente ou mãos humanas (Ex. 20.4; Dt. 6.4; Sl. 115; Rm. 1.18 ss; Ap. 13; Surata 31.13; 33.33).
Não terás outros deuses diante de mim [...] Não farás para ti imagem de escultura. Não te encurvarás diante delas, nem as servirás... (Ex. 20.3-5)
Ó filho meu, não atribuas parceiros a Deus, porque a idolatria é grave iniqüidade [...] E permanecei tranqüilas em vossos lares, e não façais exibições, como as da época da idolatria; observai a oração, pagai o zakat , obedecei a Deus e ao seu Mensageiro, porque Deus só deseja afastar de vós a abominação, ó membros da Casa, bem como purificar-vos integralmente. (Surata 31.13; 33.33)
No livro de Deuteronômio (6.4) observamos o Shemá Yisrael que atesta que ADONAI é o Único Deus.4 Yahwéh [heb. יְהוָה] é na tradição hebraica o EU SOU o que EU SOU (Eu serei o que serei),5 o Deus que existe em si, por e para si mesmo antes que houvesse os céus e a Terra (a criação, os anjos e os humanos – Is. 43.13; 45.5 ss). A falsa divindade é aquela que é concebida por humanos e é potencializada e divinizada, tomando o lugar e a primazia de Deus (fama, glória, riquezas, dinheiro/ “mamon”, poder, mercado, amigos, sexo etc).
A falsa divindade nunca é em si e para si mesma. A divindade falsa sempre tem um objetivo que vem antes e depois dela. Portanto, a verdadeira divindade é aquela que não necessita de explicações ou aceitação por consenso ou por maioria de adeptos.
Nada tem o poder de proteger, justificar ou defender a divindade de Yahwéh, pois tudo e todos têm uma imagem de Deus que deve ser questionada diuturna e continuamente. Qualquer divindade que fala por si mesma, mas seu principio e finalidade é questionável, pois procura uma glória que não é sua (Jo. 7.18; Is. 42.8). Portanto é uma falsa divindade. O único ser que pode interpretar e revelar a verdadeira divindade foi e é a pessoa de Jesus Cristo (Mt. 4.10; Jo. 7.16-18; 2Co 3.18; 4.4; Cl. 1.15; ref. ao Espírito Santo 1Co 2.10 que interpreta as profundezas de Deus).
1.3 O verdadeiro culto: O verdadeiro culto ou liturgia (leitourgias = leitourgias) deve ser coerente às propostas que os próprios celebrantes se prestam a fazê-lo. Prestar culto a Deus em liturgia não significa engessar a celebração e sim dar à celebração uma dinâmica onde o povo sirva a Deus e se sirva em [e na] comunidade.
Muitos cultos têm fugido plenamente de seus propósitos. A Ceia [a], o batismo [b], ordenação de ministros [c], apresentação de crianças e cerimônias matrimoniais [d] ou fúnebres [e], que no culto cristão são cerimônias que visam ADORAR e GLORIFICAR a Deus pela comunhão [a], pela salvação [b], pela vocação recebida [c], pela renovação da comunidade [d] e pela esperança da ressurreição [e], não têm mais sentido, visto que só se tornaram um ajuntamento de pessoas, cada qual com objetivos diferentes. São cultos de adoração vazios e não são conseqüentemente didáticos. O culto se torna falso quando serve a propósitos escusos e arbitrários para promover qualquer outra coisa do que a adoração a Deus e a comunhão da comunidade cristã. Vários cultos cristãos hoje são direcionados a promover:
a) a política do Estado (Dn. 3; Ap. 13);
b) a adoração a seres celestiais como anjos (Cl. 2.18);
c) a adoração e a bajulação de homens (Rm 1.18ss; 1Ts 2.5-8);
d) a adoração a coisas abstratas (Mt. 6.24; 1 Tm. 6.10, por exemplo, o amor ao dinheiro) e;
e) a adoração do “mercado” de consumismo espiritual compulsivo e desenfreado (Is. 29.13; Ap. 17-18).
A liturgia verdadeira é aquela que é inclusiva, onde pessoas (meninas e meninos, moças e rapazes, mulheres e homens, idosas e idosos, com ou sem deficiência), dons, carismas e ministérios têm seu espaço garantido! Hinos clássicos e novos cânticos não podem viver numa tensão e concorrência constante.
Infelizmente, alguns “levitas”, agora ressuscitados do sacerdócio da Antiga Aliança (Lv. 10.1 ss), tumultuam o culto com cânticos e mantras intermináveis (Hb. 7.11), “os apóstolos” que ressurgiram com a polpa dos sacerdotes israelitas aaraônicos (e às vezes faraônicos) imitam símbolos e uma mística copiada de um tempo imemorial (Is. 29.13; Jr. 2.8) que nem os próprios judeus hodiernos praticam e “os profetas” da última hora que antecipam as palavras que Deus “ainda” não mandou falar (Is. 30.10; Jr. 5.13, 31; 6.13; 23.16; Ez. 13.1-23) devem saber, pelo mesmo é coerente pensar assim, que o culto verdadeiro deve ter a participação do povo simples e até dos iletrados na letra, mas que não são iletrados nas coisas do espírito. Se há verdade no louvor, tudo é feito para glória de Deus! O verdadeiro culto preza pela participação de todos os membros da comunidade, desde a tenra infância até a idade avançada (Harpa Cristã, Hino 124 § 6 e “7”).
1.4 O verdadeiro espaço da adoração e da palavra: Múltiplas espiritualidades estão sendo vivenciadas no mesmo espaço. A pluralidade de temporalidades está na realidade do tempo presente (saudades, expectativas, atos proféticos etc).
Todos/ as podem participar do culto com cânticos, orações, salmos, danças, testemunho e saudação (1 Co. 12.1; 14.1 ss; Ef. 4.12 ss; 5.19; Cl. 3.16). Porém, não podemos deixar de convidar a divindade verdadeira para participar deste culto verdadeiro (Ap. 3.20; Hb. 4.7), pois a Palavra de Deus – representante inspirada e legitimada pelo Espírito da Verdade, deve ter seu TEMPO e ESPAÇO garantidos na liturgia. O espaço da Palavra não pode ser fracionado a poucos minutos. O mesmo tempo e espaço que temos para cânticos, testemunhos e devocionais, deve ser ofertado para Deus e sua Palavra.
Para que haja coerência em um culto racional que preza pela ordem e decência (1 Co. 14.40) devemos tirar toda a confusão espiritual do mesmo. “Se eu canto, se tu cantas, se ele canta, se nós cantamos, quando todos cantam, quando Deus poderá falar conosco através da sua Palavra? (Sl. 119.9; Rm. 10.17).
Devemos levar em conta também que desde a antiguidade a humanidade procura um lugar sagrado para adorar, seja em altares feitos de materiais diversos, tabernáculos, templos, sinagogas e casas. Jesus, num certo momento de seu ministério, se encontra discutindo a teologia da adoração com a mulher samaritana (Jo. 4.19 ss). Aquela mulher de Samaria, assim como os judeus de Jerusalém, acreditavam piamente que o lugar certo de adorar era só em suas respectivas cidades. Jesus resolve esse problema “teofânico-eclesiológico” mudando a tônica do discurso, para uma realidade “epifânico-escatológica” (Jo. 4.23) e “pneumatológica” (Jo. 4.23,24). Hoje, não existe melhor Templo e melhor lugar sagrado para a adoração do que o NOSSO CORPO e, de forma mais ampla, na UNIDADE do CORPO de CRISTO (Rm 8.9; 1Co 3.16,17; 6.19; 2Co 6.16; Ef 2.21; Tg 4.5; Ap. 21.3).
***
2. A verdadeira adoração requer novo nascimento: Seguindo as orientações de Paulo podemos aplicar para a espiritualidade cristã uma total mudança de pensamento. Ser adorador implica indiscutivelmente, no novo nascimento, na imitação de Cristo e na aceitação da vocação de Deus em nossa vida. Essas três categorias nos conduz à mudança do modo de pensar nesse presente tempo, para que assim possamos experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
2.1 Adoradores (as) buscam a santidade: A vontade de Deus é que busquemos a santidade (1Ts 4.3; 2 Co. 7.1). O escritor aos Hebreus diz que sem a correção dos erros (Hb. 12.10), sem a comunhão (paz com todos) e sem a santificação, ninguém poderá ver a Deus (Hb. 12.14). Pedro também relaciona a busca da santidade com a mudança de atitude e com a imitação de Deus (1 Pe. 1.14, 15; cf. tb. Rm. 8.29; Cl. 3.10).
Ser convidado a imitar o próprio Deus (Ef. 5.1) é uma honra, aliás, é um convite para participarmos da sua glória, da sua virtude e da sua natureza divina e, através dos méritos de Cristo, nos livrarmos da “corrupção das paixões que há no mundo” (2 Pe. 1.3-11; 1 Ts. 1.6; Cl. 2.14; Hb. 6.12).
A Santidade Adoradora não se mede pela quantidade de sacrificios, jejuns e orações, mas pela qualidade das nossas atitudes, sejam elas fisicas, mentais, sentimentais e/ ou espirituais. O poder dos adoradores está na virtude do Espírito Santo. A virtude do Espírito Santo nos concede o carater de Cristo, o amor do Pai e o fruto do próprio Espírito de Deus (Gl. 5.22 ss; Ef. 2.4 ss; 2 Pe. 1.3 ss).
2.2 Adoradores (as) buscam imitar Cristo: Buscar a santidade é prontamente aceitar a imagem do Deus invisivel revelada em Jesus de Nazaré (2 Co. 4.4; Cl. 1.15; 3.10; Rm. 8.29). Para que sejamos verdadeiros adoradores/ as necessitamos exalar e sermos o bom perfume de Cristo (2 Co. 2.15), imitar o carater de Cristo, aprender dele e seguí-lo (Mt. 11.28; Mt. 16.24). A dificuldade reside quando não imitamos a Deus nas coisas que Ele nos proporciona a imitá-lo. Preferimos imitar estilos, modismos, personalidades, “ídolos”, ritmos e práticas momentâneas e descartáveis do que imitar a Deus, o Eterno. Infelizmente, essa prática mimética não corresponde à uma atitude adoradora!
2.3 Adoradores (as) assumem a vocação: Assumir uma vocação é atender uma voz que chama para uma ação (latim: vocare). Na etimologia da palavra Igreja (gr. Ekklesia) encontramos a junção de dois termos ligados ao termo vocação. Do verbo grego (kalew) “Kaleo” (chamar) surge o termo (klesis) “Klésis” (chamado/ vocacionado/ convocado) somado à preposição “ek” (do, para fora). Paulo salienta que temos uma vocação pela qual fomos chamados (gr: Eklethete; cf. Ef. 4.1).6 Fomos chamados para fora de uma geração corrupta (Fp. 2.15) para sermos filhos da obediência como uma geração eleita (1Pe. 2.9) na congregação de vocacionados (1Co 1.26).
Reconhecer os dons e ministérios de Deus em nós é, sem dúvida, assumir a nossa vocação.
“Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância, pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.” Pedro, apóstolo (In: 1 Pe. 1.14)
Conclusão:
O mundo criado é uma maravilha e cosmeticamente belo. A palavra MUNDO (gr. Kosmos, transl. Kosmos) é o termo que define o habitat dos seres animados (biologicamente) e de objetos não-animados (geologia). O mundo pode significa a raça humana, as pessoas que habitam o planeta Terra. Aliás, a palavra mundo significa o próprio planeta Terra, ou Globo terrestre (Global). É no mundo, no bom sentido da palavra, que nascemos, vivemos, crescemos – passamos pela adolescencia, juventude, fase adulta e morremos... conhecemos Deus, nossa família, amigos, pessoas que nos dizem ser inimigas etc. Este é o mundo que Deus amou de tal maneira... “não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo” (Jo. 3).
A palavra mundo também pode ser utilizado como substantivo ou adjetivo: o mundo dos esportes, o mundo da moda, o mundo dos negócios, o mundo das religiões etc. Na filosofia platônica, existe o Mundo das idéias (reminiscências) e o Mundo Real. Na Teologia Judaico-Cristã o mundo pode ter TRÊS definições básicas: a) o mundo caótico; b) o mundo cosmético; c) o mundo pós-morte. Geralmente, no cristianismo, o mundo é citado junto com outros substantivos como, por exemplo, o mundo e o diabo, o mundo e a carne, o mundo e o pecado, o mundo e o inferno, o mundo e a morte. O mundo, no sentido ruim do termo, representa TUDO que nós afasta da comunhão com Deus. Se torna caótico, pois não existe uma ordem que visa glorificar e adorar a Deus.
A atual geração acumula indiscriminadamente os pecados pessoais e estruturais de todos os tempos e lugares. É a globalização, melhor ainda, a mundanização das práticas que afastam cada vez mais a humanidade da verdadeira adoração e consequentemente da verdadeira Divindade. Se há algo que Deus ainda procura são adoradores (as). “Eia! Vejamos os que os filhos dos homens estão fazendo!” ou “Adam, onde você está?” continuam sendo expressões atualíssimas para refletirmos onde, como e de que maneira adoramos. Sejamos uma geração eleita no meio de uma geração corrupta, corrompida e corrompidora.
Kurie Elehson! Criste Elehson!
[Senhor, Cristo tende misericórdia de nós]
Texto de Marcos José Martins - Evangelista
(Professor, Teólogo, Musicista, Escritor e Conferencista)
Notas Bibliográficas:
[1]Aioni deriva da expressão grega “aion” (eterno). Dependendo do contexto, esta expressão pode estar se referindo ao que é [tempo] Eterno ou ao que é “eterno” enquanto dura ou permanece. [Subst. Dativo masc. Subordinativa]
[2]Englobamos aqui todos os tipos de inteligência: a) racional; b) emocional e c) espiritual. Conquanto que sejam verdadeiras no tocante à glorificação de Deus-Trino e que produzam contextualmente beneficios aos seres humanos.
[3]Contudo, o Al Corão não admite uma Trindade divina na tradição bíblico-teológica cristã e não existe nenhuma referência ao Espírito Santo na tradição judaíco-cristã como uma pessoa divina. Jesus é visto como Messias, mas não é Deus Aláh (Surata 5.72-73). A esse tipo de monoteísmo denominamos de monoteísmo radical. (Consulta em 23 de março de 2010). Conferir também em Fonte:http://www.cacp.org.br/Islamismo/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=347&menu=4&submenu=1
[4] שְׁמַע יִשְׂרָאֵל יְהוָה אֱלֹהֵינוּ יְהוָה אֶחָד ◄. Este texto afirma a crença judaica no monoteísmo. Essa confissão de fé hebraica transliterada é assim pronunciada “Shemá Yisrael: Adonai Elohêynu, Adonai Echad”.
[5]אֶהְיֶה אֲשֶׁר אֶהְיֶה ◄. Essa expressão significa literalmente “EU SOU O QUE SOU”. Deus é o Único Ser que existe e subsiste em si. Mesmo. A pronuncia dessa expressão hebraica transliterada é “Ehyeh asher ehyeh”.
[6] Não há aqui nenhum erro na regra gramatical da língua portuguesa, uma redundância. A expressão tem a ver com um reforço da idéia da vocação.
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Bibliografia consultada e indicada:
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Manual da Harpa Cristã. São Paulo, CPAD, 1ª ed. 1999. 240 p.
Bíblia de Estudo Almeida Revista e Atualizada. SBB. 1999: 2005.
Biblia Hebraica Stuttgartensia. 5. ed. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1997. 1573 p.
Bíblia Sagrada. Novo Testamento Interlinear Grego-Português. Barueri: SBB, 2007. 978 p
GINGRICH, F. Wilbur. Léxico do NT grego/português. (Trad. Julio Zabatiero). São Paulo: Edições Vida Nova. 228 p.
HINÁRIO. Harpa Cristã. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD), 1981. 13ª. Edição. (Com música).
KIRST, Nelson; SCHWANTES, Milton (orgs.). Dicionário hebraico-português & aramaico-português. 21. ed. S. Leopoldo: Sinodal; Petrópolis: Vozes, 2008. 305 p.
RAMOS, Luiz Carlos (Orgs.). Anuário Litúrgico: Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. S. B. Campo, SP: EDITEO. Anual. 2007.
TAYLOR, William Carey. Dicionário do Novo Testamento grego. 10. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 2001. 247 p.
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